domingo, abril 22

25 DE ABRIL, SEMPRE!

Hoje, em 1974, era uma segunda feira. Devo ter entrado no quartel, no Campo Grande, em Lisboa, de manhã cedo. Por esses dias falava-se de forma mais ou menos aberta que alguma coisa estaria para acontecer. Quem cumpria o serviço militar obrigatório - no meu caso desde outubro de 1971 - sabia, ou tinha a perceção, que o regime - 48 anos após o 28 de maio de 1926 - iria sofrer o derradeiro golpe. Faço muitas vezes uma analogia com a vida de meu pai, nascido em 1910, que só conheceu a cor da liberdade aos 63 anos de idade. Se o movimento militar que foi desencadeado na quarta feira seguinte, dia 25 de abril de 1974, não fosse bem sucedido seria mais uma desilusão de consequências imprevisíveis. Naqueles últimos dois dias viveu-se num frenesim pejado de ansiedade. Tinha a idade que o meu filho tem hoje e, pela conjugação de uma vasta constelação de circunstâncias, coube-me a felicidade de ter participado no movimento que devolveu a liberdade aos portugueses. Mesmo em beneficio daqueles que, ainda hoje, dela dispondo a combatem. A melhor forma de contrariar os inimigos da liberdade é cerrar fileiras na defesa do regime democrático, das suas instituições representativas, em particular das que se constituem através de eleições livres. São mil vezes preferíveis os defeitos de um regime fundado em eleições livres, do que as "virtudes" da uma ordem fundada no silêncio e na obediência aos ditames de uma tirania.

Fotografia de Hélder Gonçalves

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